Afrofuturismo e Pan-africanismo

Um dos princípios afrofuturistas foi lançado primeiro pelo Panafricanismo. Obviamente, sem a intenção de lançar algo assim. Em Panafricanismo, esse princípio nasceu como política, enquanto no Afrofuturismo ela adquire a mesma configuração, só que na forma estética.

O princípio a qual me refiro é a primazia da unidade cultural perante a unidade territorial. Então, na perspectiva afrocêntrica, o local de nascimento vale pouco, ou nada. O local apenas dá especificidade ao tipo de racismo enfrentado de acordo com o paladar de violência que o branco desses lugares tem. Grosso modo, o racismo dos EUA gostava mais de matar do que de estuprar, enquanto o racismo brasileiro preferia o sabor de estuprar do que o sabor de matar. Essa diferença no paladar do racista não pode constituir identidade para nós, a ponto de defendermos que uma delas é melhor. O que constitui identidade preta é a cultura africana.

É a unidade de território que usaram para separar os africanos no continente entre si, separando, também, os diaspóricos dos do continente, de forma que a melhor resistência é criar unidade baseada em nenhum território, ou seja, utilizar o critério do berço civilizatório a qual pertence.

A única forma de entender esse deslocamento de jurisdição é pensar, sentir e acatar uma abstração. Essa que deixa dados concretos de lado e adota critérios culturais, ou seja, critérios mais históricos e dinâmicos do que algo que possa ser lido num RG.
Essa abstração que permeia e valoriza cultura é fértil para lançar novas consciências, novas personalidades e, por consequência, novas artes. Não à toa, a compreensão prática dessa abstração evoluiu para expressar novos anseios do peito em alegorias e metáforas, desaguando e alimentando, por exemplo, movimentos artísticos como o Afrofuturismo.

Texto de Rodjéli Nyack Ra

Ananse indica:

Pan-Africanismo, Poder Preto e História Preta – John Henrik Clarke