Não precisamos diminuir o poder da imaginação, da fantasia e da ficção para compreender o que muitos escritores afrofuturistas têm observado pelo mundo: o movimento Afrofuturista vem sendo cooptado. Sempre que uma manifestação cultural preta legítima é cooptada, ela sofre uma deformação.
Há vetor de força deformadora sobre essa manifestação cultural que leva mais para perto do paradigma brancocêntrico os anseios e questões originais do povo preto. Obviamente nesses moldes a questão preta já não se mantém tão preta assim.
Por que é que as questões pretas são semelhantes no mundo todo, e as deformações das manifestações culturais também são? Porque se trata do mesmo vetor de força deformadora no mundo todo.
É preciso especificar essa deformação. É sobre a correspondência entre aquilo que você expressa, sente no corpo, racionaliza, e sua condição de existência física. Então tá acontecendo um distanciamento aí, porque a criação dessa fantasia perdeu correspondência com a realidade. Digo isso observando a cosmogonia que ela deveria representar. Não se trata de verossimilhança ou de “não viajar demais”, “não ser brisa”.
A mente afrikana não deve se restringir, se envergonhar, para ser menos fértil. Há discursos assim por aí, de que supostamente o afrikano seria realidade, realidade, realidade. Essa rudeza concreta de cimento não é afrikanidade. Não corresponde, não. É pra ser brisa também, sim. É para viajar, sim. A pergunta é: representa? Alude e metaforiza? As alegorias são nós e desatamentos de nós, num berço cultural a qual se correspondem?
Anseio, aquilo lá do fundo do peito, é espírito. Anseio é imaginação e fantasia. Então, se quisermos ter uma relação harmoniosa com a existência afrikana, é preciso borrar esses limites de anseio e existência. De ficção e realidade.
Texto de Rodjéli Nyack Ra
Foto de reprodução da internet
Ananse indica:
Pan-Africanismo, Poder Preto e História Preta – John Henrik Clarke
Acesse https://bit.ly/3Ggr8oO
Antologia Afrofuturista: Futuros Pretos Possíveis
Acesse https://bit.ly/3Ys4kde
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