O futuro é construído no presente, com o devido conhecimento do passado. Porém, tudo isso dependerá do cultivo de sensibilidade diária. A construção no presente, sem sensibilidade presente, faz mal discernimento e constrói casa na areia da praia, quando se deveria construir na montanha.
Não basta história afrocentrada, mas o cultivo ritual da sensibilidade. Se chamarmos de tecnologia esse “anseio do peito até pouco antes da materialidade se tornar manifesta”, o cultivo da sensibilidade é a prática que torna essas tecnologias de autonomia possíveis. Que torna adequada a conversão de anseio em materialidade, de necessidade e expressão em processos de representação física da Matemática, da Biologia, etc.
Antes de qualquer tecnologia inovadora de irrigação em Kemet, ela foi primeiramente uma necessidade sofrida, depois significada, interpretada, expressa, (em corpo, mente, arte, espírito) desafiada (em lógica, conduta, intelecto, corpo) e, enfim, criada (em filosofia, alquimia, matemática, física, etc). Uma má sensibilidade no presente, repercutiria na Ciência, e tornaria infértil cada invenção, cada empreendimento. Antes de sonhar com a materialização da tecnologia agrícola, houve uma “brisa” de alguém que sonhava poder fazer chover. Houve o sofrimento e o anseio.
O aspecto quantitativo da Matemática e a materialidade da Física, são apenas os últimos estágios da tecnologia, porém todos os estágios anteriores, nesse extenso encadeamento são, também, tecnologias ancestrais.
O Afrofuturismo é uma grande alegoria rica de metáforas que aludem a poderes, possibilidades, anseios. Um treinamento de sensibilidades do caldo da experiência preta. Não é sobre raios e ventos literais, tampouco sobre teletransportes e lasers. É sobre riqueza de sensibilidade.
Texto de Rodjéli Nyack Ra