O PAN-AFRICANISMO NA PRÁTICA

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O PAN-AFRICANISMO NA PRÁTICA

A prática de Pan-africanismo pode e deve referenciar, narrar e descrever experiências pessoais de Quilombismo. Na tentativa de estabelecer práticas aos quais se referenciar pra poder indicar movimentos pan-africanistas, muitas vezes se espera condições ideais que nunca chegam, seja por acanhamento de arriscar, ou por falta de imaginação mesmo, que também não deixa de ser um acanhamento.

O que vejo na prática são muitas tentativas de dominar conceitos extensos, profundos e precisos do que é Pan-africanismo sem nunca chegar a praticar o que já se sabe. Uma das vertentes do Pan-africanismo hoje, o Garveysmo, contribui facilitando essa inserção de pessoas, na prática.

Contribui na medida em que destitui o poder dos acadêmicos tradicionais sobre o exercício do poder, entendendo também que esses preciosismos nas definições, criaram excesso de teoria e pouca prática. Não se trata de descartar as teorias, mas precisamente considerar como se tivéssemos uma overdose de…sei lá, talvez 90% de sua existência vindo de teóricos definindo e definindo Pan-africanismo, e pouca teoria surgindo de material novo, da prática, que efetivamente necessitará de teoria reformadora logo depois. Essa teoria reformadora, “na prática” será uma releitura histórica.

É sabido por muitos que integram movimentos que as motivações humanas sobre instituições e processos acabam mudando ao lidar com elas no dia a dia. Quer dizer, se você cria uma instituição pan-africana hoje, para manter ela funcionando amanhã, provavelmente o quilombo precisará atualizar os seus motivos. Pode ser alimentar uma comunidade, ou educar ela. Talvez seja proteger uma comunidade do genocídio. Talvez seja apenas fortalecer seus propósitos. A prática diária vai, necessariamente, converter uma motivação em outra de acordo com a necessidade para o qual ela se lança e para o qual ela evolui.

Se estamos cumprindo demandas de nossas comunidades, temos uma prática. A prática independe de sua formalização e estabelecimento de parâmetros de fora pra dentro. Um dos impedimentos hoje é que quem cuida de uma pauta, frequentemente considera que a sua pauta é mais importante, e não reconhece a pauta da outra comunidade, do outro distrito, da outra quebrada, num processo de bairrismo, ou Tribalismo. As urgências divergem, o tribalismo na identificação dos problemas é apenas uma versão mais abrangente do individualismo.

Há quem vá discordar e dizer que o Garveysmo dificulta a inserção ao invés de facilitar, porém, aponto que o que dificulta são mais os garveystas do que o Garveysmo, mais pelo endurecimento de sensibilidade das pessoas do que da constância (que não existe) de necessidades no quilombo. As necessidades sempre mudam, se não mudam é porque a percepção dos membros não detecta as mudanças. Falta sensibilidade, falta tato. Macetar sempre a mesma oferta de ações é contaminação pessoal do coletivo com questões pessoais de seus membros, mas isso é assunto para outro momento.

Texto de Rodjéli Nyack Ra

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